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Luís Mendes (1946-2023)

O Museu está de luto. Morreu ontem o nosso colega e amigo, Luís Mendes, um dos curadores das coleções de entomologia, investigador proeminente da entomologia portuguesa e um reconhecido perito internacional.

Investigador nas áreas da taxonomia, zoogeografia e filogenia de insectos, Luís Mendes descreveu 215 espécies e subespécies de insetos, 57 géneros e subgéneros, 8 subfamílias e uma família de insetos novos para a Ciência, sendo considerado um especialista mundial nas ordens de insetos Archaeognatha e Zygentoma ("peixinhos-de-prata", antigamente Ordem Thysanura), bem como em borboletas diurnas, com especial foco na biodiversidade de São Tomé e Príncipe e Angola. É autor de mais de 200 trabalhos publicados em revistas científicas, capítulos de livros e livros.

Luís Mendes nasceu em Lisboa em 1946. A sua vocação pelo trabalho em coleções científicas surgiu ainda em criança, quando acompanhava o pai no seu trabalho como preparador nas coleções do MUHNAC. Realizou os seus estudos académicos na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, tendo concluído a licenciatura em Biologia em 1971 e doutoramento em 1983. Entre 1970 e 1994, desenvolveu carreira de docente na mesma Faculdade, tendo apresentado as Provas de Agregação em 1987.

Em 1990, ingressou nos quadros de investigação do Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT), onde já colaborava, nomeadamente no âmbito da Missão a Macau (1988-89). Tornou-se Investigador Coordenador do Centro de Zoologia do IICT em 1994. Neste Centro, coordenou e participou em inúmeras missões científicas por diversas regiões do mundo como: Madeira, Porto Santo, Desertas, Selvagens, ilha de Santa Maria (Açores), Guiné-Bissau, Cabo Verde, Angola e, principalmente, São Tomé e Príncipe.

O seu entusiasmo contagiante pelos insetos era também demonstrado durante a realização de workshops para crianças e jovens sobre Entomologia, integrados em sucessivos eventos como a Noite Europeia dos Investigadores (construção de armadilhas luminosas para captura de insetos, entre outros). O seu intenso envolvimento notava-se igualmente noutras atividades de cariz pedagógico, como nas exposições em que colaborou: Terra de Insectos (Seia, Centro de Interpretação da Serra da Estrela, 2007) e Um Mundo de Insectos (IICT, 2008).

Aposentou-se em 1994, mas continuou a trabalhar todos os dias no Centro de Zoologia e depois no MUHNAC, para continuar a estudar e a descrever a entomofauna, tendo em mãos diversos trabalhos quando adoeceu.

Foi membro fundador da Sociedade Portuguesa de Entomologia, criada em 1978.

A sua paixão pelo estudo da biodiversidade tocou diversos alunos e colegas, que lhe prestaram homenagem atribuindo o seu nome a um género de Microcoryphia e 11 espécies de Diplura, Microcoryphia, Zygentoma, Dermaptera, Phthiraptera (Mallophaga), Coleoptera, Strepsiptera and Diptera). Um exemplo é Litocampa mendesi Sendra & Reboleira, 2010, descoberta numa gruta algarvia. Este reconhecimento extravasou a comunidade de entomólogos, havendo uma cobra denominada de Boaedon mendesi Ceríaco et al. 2021; é endémica da ilha do Príncipe, de que tanto gostava e onde procurava ir todos os anos, mesmo após a pandemia, para recolha de espécimes para investigação.

Desapareceu um homem extraordinário, de uma bondade e candura desarmantes e raras, de grande sentido de humor, deu um grande contributo para a ciência contemporânea.

Marta Lourenço, Diretora
15 setembro 2023

 

Trabalhos mais recentes:

2022 – “Lista anotada das borboletas diurnas e das ziguenas de Portugal da coleção do Museu Nacional de História Natural (Museu Bocage) antes do incêndio de 1978 (Lepidoptera: Papilionoidea, Zygaenoidea” (em colab. com M. Rosália Mendes, A. Bívar de Sousa e J. Almeida Fernandes). SHILAP: revista de Lepidopterología, vol.49, nº 193

2022 – “Three new species of European Coletinia Wygodzinsky (Zygentoma, Nicoletiidae), with additional records and an updated identification key” (em colab. com Rafael Molero-Baltanás, Miquel Gaju-Ricart, Žiga Fišer e Carmen Bach de Roca. European Journal of Taxonomy, vol. 798