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Paradeisos - Museu da Luz

Exposição “PARADEISOS” no Museu da Luz, com o apoio do MUHNAC

Inaugurou, no dia 19 de março, no Museu da Luz, em Mourão (Alentejo) a exposição “Paradeisos” do artista Henrique Vieira Ribeiro. A exposição, que teve patente no MUHNAC em 2013 conta com curadoria da museóloga do Museu, Sofia Marçal.

Na sua exposição, o artista baseia-se na teoria de Hegel que, segundo Tomás Maia, diz que Paradeisos terá sido a primeira tradução grega para Éden e que este compreenderia um recinto fechado contendo árvores de todas as espécies e animais.

É com base nesta premissa que o projeto Paradeisos tem origem.

Composto pela presença de cadáveres de árvores cujo crescimento é manipulado pelo Homem, vulgarmente designadas por bonsais, é uma prática que evidencia a persistência do iluminismo enquanto ideologia nem sempre consciencializada, enquadrando-se este projeto numa linha de questionamento acerca da condição humana, nomeadamente na definição de (S)ser Humano, assim como da forma como este se relaciona com o que o rodeia.

Uma exposição site specific em que a obra é criada de acordo com o ambiente e com o espaço, sendo um lugar onde as árvores – mortas – se tornam no elemento central, complementadas pelo som auroral.

A Exposição “Paradeisos” pode ser visitada até dia 16 de junho de 2024.

 

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Texto Curadora

À memória de um bonsai cadáver

A exposição Paradeisos de Henrique Vieira Ribeiro que se apresentada no Museu da Luz recria um éden imaginário onde o bonsai é o protagonista. Citando o artista, “segundo Tomás Maia, Hegel diz que Paradeisos terá sido a primeira tradução grega para Éden, este compreenderia um recinto fechado contendo árvores de todas as espécies e animais.” Este lugar agora apresenta a memória de bonsais remetendo-nos para a paisagem deste sítio, onde outrora estavam plantados sobreiros entre outras árvores.

A exposição é constituída por três instalações; a instalação PARADEISOS, formada por seis desenhos e sombras de bonsais que criam desenhos com o seu próprio movimento autónomo. Onde o paralelismo com o teatro de sombras japonês é obvio, só que aqui o movimento das sobras é ténue e é dado pela deslocação do ar.

A instalação sonora, AURORA #01, é composta por sons da natureza captados e editados pelo artista. É uma forma metafórica e distópica de trazer vida para dentro do museu. O ambiente bucólico gerado, contrasta com a morte anunciada pela presença de bonsais sem vida e segundo Henrique Vieira Ribeiro, “cruza-se com a sensação de renovação de ciclo – de vida – introduzida pelo registo do som de um dia que (re)nasce.”

Em oposição espacial temos a instalação, CADÁVER #031, uma sombra projetada na parede de um bonsai. Citando Henrique Vieira Ribeiro, “o bonsai é uma árvore totalmente criada pelo Homem, todo o seu crescimento e desenvolvimento é uma pegada iluminista que se mantém.”  O diálogo entre as sombras das árvores e o seu registo, transmite a ideia de fixação de algo efémero assim como a verticalidade da instalação sugere vitalidade e crescimento.

A exposição é composta por ‘cadáveres’ de bonsais, nome que Henrique Vieira Ribeiro se apropriou e como nos diz, “é interessante dar essa dimensão animal a uma planta, a um vegetal, a um bonsai.” Construiu um pensamento expositivo no qual a condição vegetal está em diálogo com a condição humana. “Vai levar tempo para que se assimile a nova situação global, e particularmente para que se possa confrontá-la de maneira efetiva, o que sempre ocorreu com todas as transformações realmente profundas da condição humana.”[1] Tendo em conta o posicionamento da condição humana, na sua relação com a Natureza e especificamente na exposição na sua conceção pictórica e artística.

Henrique Vieira Ribeiro com esta exposição pretende não só evocar a natureza, mas também refletir sobre a manipulação do Homem e da sua supremacia sobre ela. “As práticas de arte não são instrumentos que forneçam formas de consciência ou energias mobilizadoras em beneficio de uma política que lhes fosse exterior. Mas também não saem de si mesmas para se tornarem formas de ação política coletiva. Contribuem para desenhar uma paisagem nova do visível, do dizível e do fazível. Contra o consenso de outras formas do «senso comum», forjam formas de um senso comum polémico.”[2]  O conceito de uma obra orgânica e a materialização destas instalações está associada a práticas socias e humanistas que são complementares ao processo artístico do artista.

As técnicas que Henrique Vieira Ribeiro utiliza na criação dos seus trabalhos estão directamente relacionadas com a representação multimédia. O artista trabalha conceitos de investigação e experimentação orgânica que tem mapeado o seu percurso artístico, aliado à sua preocupação ambientalista.

Na entrada do museu, encontra-se o desenho DA ÁRVORE 1.01 como peça introdutória que nos conduz à exposição e nos posiciona perante a inevitabilidade do confronto da memória deste espaço expositivo. “Para onde quer que olhemos, a obsessão pública contemporânea com a memória choca com o intenso pânico público em relação ao esquecimento, e podemo-nos muito bem perguntar qual veio primeiro. Será o medo de esquecer que desencadeia o desejo de lembrar ou será talvez ao contrário?” [3]

Esta exposição foi apresentada no Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa em janeiro de 2023.


Sofia Marçal

 

[1] Zygmunt Bauman, in: Amor liquido – Sobre a Fragilidade dos laços humanos, p. 100

[2] Jacques Rancière in: O espectador emancipado, p.113.

[3] Andreas Huyssen, in: Políticas da memória do nosso tempo, p.5