Coluna da Diretora | setembro 2024
Pela sua importância, não consigo deixar passar em branco uma reunião que tivemos no MUHNAC esta semana.
Como sabem, em julho, a Universidade de Lisboa assinou um protocolo com o Instituto Nacional do Património Cultural (INPC) do Ministério da Cultura de Angola, com vista à valorização dos museus e profissionais de ambos os países.
Na quinta-feira passada, dia 19 de setembro, realizámos a primeira reunião (online) ao abrigo desse protocolo. Foi um dia extraordinário, que excedeu largamente as minhas expetativas.
Estiveram presentes os diretores e diretoras dos principais museus de Angola (Museu da Tentativa (Caxito), Museu Nacional de Arqueologia (Benguela), Museu Regional de Etnografia do Lobito, Museu Regional de Cabinda, Museu de Etnografia do Planalto Central, Museu Regional da Huíla, Museu Regional do Dundo, Museu Nacional de Antropologia, Museu Nacional de História Natural, Museu Nacional da Escravatura, Museu Nacional de História Militar, Casa Museu Óscar Ribas, Museu da Força Aérea Nacional, Museu da Moeda e Museu do Reino do Congo), para além de Cecília Gourgel, Diretora do INPC, e Soraia Ferreira, Diretora dos Museus de Angola.
A reunião contou ainda com a presença de Fátima Roque, Coordenadora da Rede Portuguesa de Museus (Ministério da Cultura português), bem como de Teresa Girão do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, Rita Gaspar, do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, Luisa Trindade da Universidade de Coimbra, entre tantos investigadores, professores, profissionais de museus, estudantes e bolseiros, num total de 62 pessoas. Só na participação, a reunião já foi um enorme sucesso.
Durante a manhã, o objetivo foi conhecermo-nos mutuamente: houve apresentação dos museus, incluindo o MUHNAC naturalmente, e dos objetivos do próprio protocolo. Durante a tarde, dividimo-nos em grupos de trabalho temáticos:
GT Conservação
GT Documentação e Inventário
GT Exposição, Programação e Mediação
GT Construção de Redes
A atividade nos grupos foi entusiasmante e contagiante, e os resultados plenos de ideias concretas para trabalho colaborativo futuro. As conclusões estão a ser compiladas e serão apresentadas muito em breve.
Certo, apenas agora começámos, mas escusado será sublinhar a importância e o simbolismo desta reunião.
As relações do MUHNAC com os museus das antigas colónias portuguesas vêm de longe, mas têm sido ocasionais e largamente individuais. Éa primeira vez que essas relações são estruturadas e formalizadas, e que espero que se alarguem em breve a todos os museus portugueses, abrindo assim novas e frutuosas oportunidades de cooperação mútua.
Por outro lado, e fruto do nosso passado comum – que temos o dever de reconhecer que nem sempre foi fácil ou pacífico – existe património cultural significativo proveniente de Angola em Portugal. Também existe património cultural de origem portuguesa em Angola. Esta razão por si só bastaria para dialogarmos e encontrarmos caminhos partilhados de valorização, preservação e acesso, a bem da investigação, educação e cultura de todos e de todas.
Mas existem muitas mais razões – disso falarei noutras colunas.
Para o MUHNAC, cujo património estimo que seja entre 20-30% de origem angolana, é da maior importância trabalhar com profissionais de museus de Angola.
Existe uma diáspora significativa em Portugal – cerca de 40 mil angolanos – alargada aos portugueses de ascendência angolana, com os quais já estamos a trabalhar há vários anos em co-curadoria.
Faltava esta ponta muito importante, que se concretiza com este protocolo e especificamente com a reunião desta semana.
Às vezes diz-se que as instituições públicas fazem protocolos só para mostrar serviço, mas eu pressinto que este vai ser diferente, quer do nosso lado quer do lado de Angola.
Gratidão enorme a todos quantos participaram e mantenham-se atentos – haverá novidades em breve.
Marta Lourenço
21 Setembro 2024