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electroscópio

Objeto do mês

Ligado

Este mês destacamos o aparelho de Chéneveau-Laborde (MUHNAC-UL001297), instrumento usado para medição de radioatividade. Neste objeto encontra-se gravado na ocular do microscópio "DEYROLLE" e apresenta uma etiqueta manuscrita do Departamento de Física da Faculdade de Ciências, com a inscrição "LAB.41".

Este aparelho é composto essencialmente por um electroscópio de folha única, suspensa por uma peça isolante e interligada por um condutor metálico à atmosfera de um recipiente fechado contendo a amostra radioativa; a folha afasta-se do seu suporte num determinado ângulo e a variação angular é lida através duma ocular de microscópio provida de um micrómetro. Os dois coeficientes tempo e distância angular servem para medir a intensidade radioativa da substância analisada.

 

Physique Générale Expérimentale: instruments de précision: les fils d'Émile Deyrolle. 1928
Physique Générale Expérimentale: instruments de précision: les fils d'Émile Deyrolle. 1928



 

 

 

 

 

 

 

 

 

Trata-se de um electroscópio semelhante ao utilizado por Charles Lepierre (1867-1945), que possibilitava as medições do teor radioativo das águas das principais águas termais portuguesas, cujas potencialidades as suas pesquisas ajudaram a conhecer na época. Daí resultaram um conjunto vasto de opúsculos (link), publicados pelo Instituto de Hidrologia, onde constavam esses valores: Cucos (1896), Funchal (1900), Guimarães (1900), S. Vicente (1910), Amieira (1911), Vidago (1913), Vizela (1914), Melgaço (1915), Alardo (1916), Furnas (Açores) (1917), Carvalhelhos (1919), Monte Real (1920), Santa Marta (Ericeira) (1920), Piedade, Luso (link), Caldas da Rainha, Estoril, Verride (1921), Vila Verde dos Francos (1922), Curia (1925), Gerês (1925 e 1927), Águas de Moura (1927), Caldelas (1927), Alcaçarias do Duque em Lisboa (1927), Aregos (1928), Monchique (1928)(link), S. Pedro do Sul (1929), Caria, (1930) e Foz da Certã (1932).

Este químico esteve em Lisboa entre 1888 e 1889, como chefe de trabalhos de Química Mineral da Escola Politécnica e preparador de Tecnologia Química no Instituto Industrial.

Formado em Paris na École de Physique et Chimie Industrielles em 1887, Lepierre é contratado no ano seguinte pela Escola Politécnica de Lisboa como preparador das Cadeiras de Química. Esta contratação surge no âmbito da ocorrência de um incidente nos Laboratórios desta Escola, da consequente suspensão do ensino prático pelo lente José Júlio Bettencourt Rodrigues (1845-1893) e sua insistência junto da Direção desta Escola, pela contratação de pessoal experimentado e obras de melhoramentos no Laboratorio Chimico, adaptando-o a uma componente mais experimental e pedagógica. Na Ata do Conselho Escolar da Escola Politécnica de Lisboa de 1 de outubro de 1888, pode ler-se: "É autorizado o lente da 6.ª cadeira a pagar pela verba de dotação da cadeira [...], a quantia de 18 000 réis mensais ao preparador do Instituto Industrial Carlos Lepierre em serviço provisório na Escola e encarregado de auxiliar o lente nas lições do curso de Química".
 

Ata do Conselho da Escola Politécnica, 1888-10-01, Fundo da Escola Politécnica de Lisboa, secção Conselho da Escola Politécnica, série Atas do Conselho, Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa, PT/MUL/EPL/CEP/01
Ata do Conselho da Escola Politécnica, 1888-10-01, Fundo da Escola Politécnica de Lisboa, secção Conselho da Escola Politécnica, série Atas do Conselho, Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa, PT/MUL/EPL/CEP/01

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Charles Lepierre parte para Coimbra onde exerce uma intensa atividade (1889-1911) como docente na Escola Industrial Avelar Brotero e fundamentalmente na Universidade (Laboratório de Microbiologia).

Em 1911 regressa a Lisboa, exerce como docente titular de Química no ex-Instituto Industrial (atual Instituto Superior Técnico) e no Instituto de Hidrologia a partir de 1919. Dedica-se a estudos de ciência aplicada com reflexos na vida económica portuguesa: conservas, azeite e leite.
Assume outros cargos institucionais, nomeadamente, membro do Conselho Superior de Minas e Serviços Geológicos e diretor do Laboratório do Instituto Português de Conservas de Peixe.

Ocupou também o cargo de engenheiro consultor da fábrica da Société Urane-Radium, controlada pelo Banco Burnay, durante 20 anos, desde 1917 até à sua reforma, para dirigir os trabalhos da fábrica de tratamento de minério de urânio na aldeia do Barracão, na Beira Alta. Lepierre tinha sido aluno de Pierre Curie e a sua contratação revelar-se-ia fundamental para fazer de Portugal um importante fornecedor de rádio para o casal Curie, uma vez que o governo austríaco tinha suspendido, em 1903, a exportação de minério de urânio das minas de Joachimsthal, na Boémia, para França, minério este que tinha permitido o isolamento e identificação de dois novos elementos químicos, o polónio e o rádio, por Marie e Pierre Curie, pelo qual, foi atribuído a ambos o Prémio Nobel da Física em 1903, e em 1911 o Prémio Nobel da Química a Marie.

A mina do Barracão já laborava desde 1908, mas Lepierre optimizou o processo, determinando a qualidade e quantidade do material extraído.
 

ÁGUAS E ROCHAS

A composição química das águas subterrâneas é muito variável e depende da composição das rochas com que contacta antes de chegar à nascente ou à captação. Em Portugal a geodiversidade é grande e, por isso, a composição química das nossas águas é muito diversa. 
 

Águas alcalinas

 

 

 

 

 

 

 

Águas alcalinas / Sienito nefelínico
As águas são alcalinas quando circulam através de rochas compostas por minerais facilmente alteráveis, como é o caso de rochas constituídas por minerais com pouca sílica.  É o caso da água de Monchique que circula em sienitos nefelínicos, onde está ausente quartzo e predomina a nefelina.

 

Águas cálcicas

 

 

 

 

 

 

 


Águas cálcicas / Calcário
Quando atravessam calcários, que são fundamentalmente constituídos por carbonato de cálcio, as águas adquirem a composição bicarbonatada cálcica.  É o caso da água do Cruzeiro, com composição bicarbonatada cálcica- magnesiana, dado que, na sua composição, os iões predominantes são o anião bicarbonato e os catiões cálcio e magnésio.

 

Águas pouco mineralizadas

 

 

 

 

 

 

Águas pouco mineralizadas / Quartzito
Por vezes as águas são muito pouco mineralizadas, quase água da chuva. Acontece quando atravessam rochas constituídas por minerais pouco solúveis, como é o quartzito (rocha composta fundamentalmente por sílica/quartzo). Exemplos são as águas de Luso e Vitalis, que circulam através de rochas quartzíticas.

 

Águas gasocarbónicas

 

 

 

 

 

 

 

Águas gasocarbónicas / Tectónica associada
Águas ácidas / Granito

Águas gasocarbónicas são águas que têm na sua composição CO2(g) livre. Estão normalmente associadas a zonas de tectónica ativa, que permite a ascensão do gás da profundidade. Exemplos bem conhecidos são as águas de Vidago e Pedras Salgadas. Estas águas são ligeiramente ácidas, devido à presença do CO2(g) e por circularem em rochas graníticas, adquirindo composição bicarbonatada sódica por dissolverem os feldspatos constituintes dos granitos.
As águas que circulam através de granitos podem apresentar alguma radioatividade se aquelas rochas forem ricas em minerais de urânio, como é o caso da água Fadagosa de Nisa.

 

 

Texto de: Branca Moriés, Bibliotecas/Arquivo Histórico, IICT & Museus da ULisboa | Elisa Campos, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa | Liliana Póvoas, Curadora convidada Coleções Geológicas MUHNAC | Rosário Carvalho, Faculdade de Ciências da ULisboa | Maria do Carmo Elvas, Núcleo de Património e Coleções, MUHNAC
Fotografia de: Catarina Mateus, João Paulo Lopes, Maria do Carmo Elvas

 

Electroscópio
Fabricante: Les fils d'Émile Deyrolle
Proveniência: Dep. de Física, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
MUHNAC- UL001297

 

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PROGRAMA ALARGADO

14 abril | Dia Mundial Quântico
15h00 - A Indústria do rádio entre França e Portugal. Início do Estudo do cancro em Portugal.  
Elisa Campos, Faculdade de Ciências Médicas da UNL

Local: Auditório Manuel Valadares | MUHNAC-ULisboa

Inscrições:
geral@museus.ulisboa.pt

Mais informações aqui