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Exposição temporária

Data

21 Dezembro 2022 - 31 Dezembro 2024

Local

Sala A001 | Museu Nacional de História Natural e da Ciência

A exposição “O Impulso fotográfico. (Des)arrumar o arquivo colonial” propõe uma leitura decolonial das imagens e dos objetos científicos das expedições de geodesia e antropologia realizadas aos territórios colonizados por Portugal, entre o final do século XIX e a libertação desses territórios, consumada com a revolução democrática de 25 de abril de 1974.

A exposição surge de um projeto académico, com financiamento público, desenvolvido pelo Instituto de Comunicação da Nova em parceria com o Museu de História Natural e Ciência da Universidade de Lisboa, e resulta de uma curadoria colaborativa e intercultural que reuniu um conjunto de investigadores/as, ativistas e artistas oriundo de três continentes e de lugares sociais diversos.

Com esta exposição, queremos contribuir para a descolonização dos patrimónios musealizados e dos museus, dado o seu importante papel na construção da(s) história(s) e da(s) memória(s) coletivas. Propomos debater os legados do colonialismo - na sua versão portuguesa - procurando revelar, através das coleções das expedições científicas de geodesia (1890-1932) e de antropologia física ( 1936- 1975), os pontos de vista silenciados pela versão oficial da história, ou seja, a dos colonizadores. Esta versão perpetua-se, ainda hoje, nos livros escolares e romantiza o colonialismo como um encontro de culturas, escondendo a violência, a espoliação e divisão territorial, a escravatura, os trabalhos forçados, e a destruição das culturas e saberes dos povos colonizados.

A exposição desenvolve-se em dois núcleos principais. O primeiro mostra as fotografias, álbuns, objetos e documentos da demarcação das fronteiras que constituíram os territórios de Angola e Moçambique; o segundo núcleo, apresenta as fotografias e materiais científicos das missões de antropologia colonial orientada por um programa de estigmatização racista das populações colonizadas.

As fotografias, filmes e objetos científicos aqui mostrados foram usados pela ciência como tecnologia para visualizar, medir, classificar e arquivar os seus objetos de estudo, num contexto de exploração e extrativismo dos recursos naturais e humanos. Representam práticas de medição dos territórios e dos corpos, parte integrante de um pensamento estatístico do controlo e da vigilância. Permitem, por isso, múltiplas leituras, ao mesmo tempo que levantam inúmeras questões: qual o significado destas coleções no passado, no presente e para as diferentes comunidades? Que marcas deixaram estas imagens enraizadas na sociedade? O que mostrar e como mostrar? Questões sobre o que se vê e o que não se vê, sobre o que não sabemos ver, e o que não nos foi permitido ver.

Sob o mote da desarrumação e do inacabado, chamamos a atenção para estes processos de controle, que hoje são ainda mais sofisticados, e para o arquivo colonial, onde encontramos inúmeras provas tanto da opressão quanto de formas de resistência e luta por parte dos povos invadidos.

Através de trabalhos artísticos procuramos restituir humanidade e propomos contra-visualidades. Através da museografia crítica procuramos o questionamento da realidade que nos foi contada, a rutura e o desalinhamento das ideias e conceitos como novas formas coletivas de diálogo com estes materiais históricos, em pleno século XXI.

Propomos esta exposição como um (pequeno) gesto de reparação histórica, identitária e cultural, e como uma medida fundamental para a construção de uma sociedade mais justa em cada gesto do nosso dia a dia.

Participaram nesta curadoria, por ordem alfabética: António Fernando Cascais; Carmen Rosa; Catarina Mateus; Lorena Sancho Querol; José Luís Garcia; Marinho de Pina; Margarida Medeiros; Nkaka (K4PP4) Bunga Sessa; Rita Cássia Silva; Samira Amara, Sara Fonseca da Graça a.k.a. Petra.Preta; Santos Garcia Simões; Soraya Vasconcelos; Teresa Mendes Flores. E ainda as artistas convidadas, por ordem alfabética: Lorena Travassos, Madalena Miranda e Susana de Sousa Dias.

Projeto financiado pela FCT com o nº PTDC/COM-OUT/29608/2017: O impulso fotográfico: medindo as colónias e os corpos colonizados. O arquivo fotográfico e fílmico das missões portuguesas de geografia e antropologia.
 

ENGLISH VERSION

 

Artistas participantes:
Gabs Leal, Helena Elias, Lorena Travassos, Madalena Miranda, Maria Kowalski, Marinho de Pina, Nkaka (K4PP4) Bunda Sessa, Rita Carvalho, Soraya Vasconcelos e Susana de Sousa Dias.

 

FICHA TÉCNICA

 

PROGRAMA COMPLEMENTAR

Consulte a agenda para atividades no âmbito da exposição.