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Exposição do artista plástico Lourenço de Castro
A cor, a forma, o movimento e o desenho
A exposição Organismos de luz amarela do artista plástico Lourenço de Castro é composta por quatro painéis de pinturas a guache sobre papel e quatro pinturas a óleo sobre papel. Segundo o artista, “o nome da exposição poderia supor que o que se vai ver são representações de organismos de luz amarela, mas não, os organismos a que se refere o título são as próprias pinturas que no seu aspeto luminoso evidenciam maioritariamente uma cor amarela. O título convoca dois aspetos, o organismo enquanto ser corpóreo com vida própria, e a luz como elemento incorpóreo que emana das imagens que compõem esta exposição.” As pinturas aqui apresentadas têm uma intenção de continuidade e de coerência com o trabalho que o artista tem vindo a realizar.
A aproximação destes trabalhos artísticos às coleções do museu é nos explicado pelo Lourenço de Castro, “considero que as pinturas aqui apresentadas pelas suas características formais naturalmente encontram um eco nas peças que constituem a coleção do Museu, e são uma evidência visível de um modo de criação artística capaz de estabelecer ligações com áreas de estudo deste Museu, mais concretamente as múltiplas configurações que a matéria mineral, zoológica, botânica, pode ter. Nesta perspetiva alarga o grau de consciência que as pessoas poderão ter relativamente ao Mundo enquanto objeto de estudo nas suas mais variadas aproximações e possíveis convergências disciplinares.” Esta exposição vem ao encontro da programação de Arte, Ciência e Natureza. O Museu Nacional de História Natural e da Ciência privilegia estas interações mesmo que por vezes sejam ténues, ou subtis como é o caso desta exposição.
Há nesta exposição uma consciência forte daquilo que são as marcas, o sentido da própria materialidade e das formas ao serviço do ato criativo. Continuando a citar o autor,”as pinturas são o resultado de um processo de transformação e sedimentação da matéria que a dado momento cristaliza e fixa-se numa forma, à semelhança das coisas que integram o mundo da história natural, e que no seu aspeto visível têm uma configuração orgânica, natural, que vem da natureza.”
Esta relação entre o pintor e a pintura, que pensa a luz a partir da sua sensibilidade, cria um complexo mundo de cores e formas que se combinam entre si a partir do seu registo vivencial. “O amante da vida universal entra assim na multidão como num imenso reservatório de eletricidade. Pode-se também compará-lo, ele mesmo, a um espelho tão imenso quanto esta multidão; a um caleidoscópio dotado de consciência, que, em cada um dos seus movimentos, representa a vida múltipla e a graça móvel de todos os seus elementos. É um eu insaciável do não-eu que, a cada instante, o manifesta e o exprime em imagens mais vivas do que a própria vida, sempre instável e fugidia.”1 Lourenço de Castro centraliza pictoricamente a existência de um pensamento conceptual, sobre a sua pintura e sobre o pensar a pintura.
Ao pensarmos na cor, menciono Mel Bochner, que é um dos fundadores da arte conceptual, papel que o artista nega. Os seus trabalhos mais recentes assinalam um regresso à pintura, como o próprio diz “fui um pintor que não pintou durante um tempo”. Bochner utiliza consistentemente a cor, investigando o modo como ela subverte a linguagem e o texto. (…) Se a linguagem é a nossa mente, então a cor é o nosso corpo; se a linguagem é significado e pensamento, então a cor é emoção e sensação... Muitas das pinturas são retratos psicológicos de um mundo de desespero, agitado, fervilhante e tagarela, ainda que as cores que dão corpo às palavras brilhem, refuljam e vibrem de felicidade”2 . Nas pinturas de Lourenço de Castro, as cores também dão vida às formas, sugerindo o momento no qual a matéria utlizada nas pinturas irradia luz, é o seu ato de criação.
Sofia Marçal
1Charles Baudelaire, in: O pintor da vida moderna, p.20.
2Informação retirada do catálogo da exposição If the Color Changes, (Se a cor muda) do artista norte-americano Mel Bochner (1940), no museu Haus Der Kunst, em Munique.
Inauguração da exposição: 2 fevereiro, 18h00 às 20h00
Finissage e lançamento do catálogo: 3 março, 18h00 às 20h00