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Exposição de Arte e Ciência

Data

13 Janeiro - 12 Fevereiro 2023

Local

Museu Nacional de História Natural e da Ciência

Exposição do artista plástico Henrique Vieira Ribeiro.
 

À memória de um bonsai cadáver

A exposição Paradeisos de Henrique Vieira Ribeiro apresentada no Laboratório de Química Analítica recria um éden imaginário. Citando o artista, “segundo Tomás Maia, Hegel diz que Paradeisos terá sido a primeira tradução grega para Éden, este compreenderia um recinto fechado contendo árvores de todas as espécies e animais.” Este lugar que existe enquanto nome, outrora foi um laboratório, agora apresenta a memória de bonsais.

A exposição é constituída por três instalações; a instalação PARADEISOS, formada por 6 desenhos e sombras de bonsais que criam desenhos com o seu próprio movimento autónomo. O paralelismo com o teatro de sombras japonês é obvio, só que aqui o movimento das sobras é ténue, é dado pela deslocação do ar. Está instalada à frente da hotte criando a ideia da imponência do pagode japonês.
 
A instalação sonora, AURORA #01, composta por sons da natureza captados e editados pelo artista. É uma forma metafórica e distópica de trazer vida para dentro do museu. O ambiente bucólico gerado, contrasta com a morte anunciada pela presença massiva de bonsais sem vida e segundo Henrique Vieira Ribeiro, “cruza-se com a sensação de renovação de ciclo – de vida – introduzida pelo registo do som de um dia que (re)nasce.”

Em oposição espacial temos a instalação, CADÁVER #031, uma sombra projetada na parede de um bonsai. Citando Henrique Vieira Ribeiro, “o bonsai é uma árvore totalmente criada pelo Homem, todo o seu crescimento e desenvolvimento é uma pegada iluminista que se mantém.”  O diálogo entre as sombras das árvores e o seu registo, transmite a ideia de fixação de algo efémero assim como a verticalidade da instalação sugere vitalidade e crescimento.

A exposição é composta por ‘cadáveres’ de bonsais, nome que Henrique Vieira Ribeiro se apropriou e como nos diz, “é interessante dar essa dimensão animal a uma planta, a um vegetal, a um bonsai.” Construiu um pensamento expositivo no qual a condição vegetal está em diálogo com a condição humana. “Vai levar tempo para que se assimile a nova situação global, e particularmente para que se possa confrontá-la de maneira efetiva — o que sempre ocorreu com todas as transformações realmente profundas da condição humana.”1  Tendo em conta o posicionamento da condição humana, na sua relação com a Natureza e principalmente na sua conceção pictórica.

Henrique Vieira Ribeiro com esta exposição pretende não só evocar a natureza, mas também refletir sobre a manipulação do Homem e da sua supremacia sobre ela. “As práticas de arte não são instrumentos que forneçam formas de consciência ou energias mobilizadoras em beneficio de uma política que lhes fosse exterior. Mas também não saem de si mesmas para se tornarem formas de ação política coletiva. Contribuem para desenhar uma paisagem nova do visível, do dizível e do fazível. Contra o consenso de outras formas do «senso comum», forjam formas de um senso comum polémico.”2  O conceito de uma obra orgânica e a materialização destas instalações está associada a práticas sociais e humanistas que são complementares ao processo artístico do artista.

As técnicas que Henrique Vieira Ribeiro utiliza na criação dos seus trabalhos estão directamente relacionadas com a representação multimédia. O artista trabalha conceitos de investigação e experimentação orgânica que tem mapeado o seu percurso artístico, aliado à sua preocupação ambientalista.

 “Para onde quer que olhemos, a obsessão pública contemporânea com a memória choca com o intenso pânico público em relação ao esquecimento, e podemo-nos muito bem perguntar qual veio primeiro. Será o medo de esquecer que desencadeia o desejo de lembrar ou será talvez ao contrário?”3

Sofia Marçal


[1] Zygmunt Bauman, in: Amor liquido – Sobre a Fragilidade dos laços humanos, p. 100

[1] Jacques Rancière in: O espectador emancipado, p.113.

[1] Andreas Huyssen, in: Políticas da memória do nosso tempo, p.5

 

Inauguração: 12 janeiro, 18h00 às 20h00