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Exposição da artista plástica Ana Leonor Martins
Uma exposição a 2 tempos
A exposição TRANSCEN-Dental de Ana Leonor Martins, é composta por 14 peças; desenhos, instalações, esculturas, radiografias e película de TAC. A exposição constrói-se a dois tempos, no primeiro onde a maioria das peças são literais, representam a dor, criadas num período de sofrimento da artista. “Parecia estar já para além da dor, do receio ou da incerteza.”1 Foram executadas em 2018. Como são o caso das peças CONSULTA 173, CONSULTA 234, estas suspensas na parede. GENGIVOPLASTIA/ PACHWORK, LÍNGUA NOS DENTES, colocadas dentro dos armários, PULSEIRA DES-DENTÁRIA e ACIDENTÁRIO, em cima das bancadas e as peças A FÚRIA DO AÇUCAR e VIAGEM DE UM CANINO no centro da sala.
Foi com estas peças que Ana Leonor Martins deu início a um novo caminho de criação artística o qual ainda o está a percorrer, foi o seu momento de viragem. “A mil léguas, possivelmente, a este e a oeste, troavam batalhas. Parecia escandaloso que esse imenso rugido de dor, que, se em qualquer momento viesse a entrar em nós, assim por inteiro, nos mataria, pudesse coexistir com aquele delgado fio de delícias.”2 As peças com muita cor recriam um processo dentário de dor, um momento traumatizante passado, transportado para presente, num ambiente branco e acético de Laboratório, no Laboratório de Química Analítica.
A coincidência da artista ter encontrado num prédio peças de laboratório de odontologia abandonadas, foi muito insólito. Recolheu esse material e utilizou-o para realizar as suas peças como forma de sublimação do trauma porque estava a passar. Estres trabalhos, incluem outros conhecimentos que já tinha adquirido, no design, na moda e na joalharia. Citando a artista, “deste modo, as composições estéticas são criadas através do desenho, escultura, instalação e da seleção de materiais neste caso são não só os dentes e materiais odontológicos, mas também objetos e utensílios, para mim familiares, de várias naturezas e áreas em que trabalho, vindos de um mundo da joalharia, moda, design, construção civil e bricolage.”
A peça COLUNA ORAL, A LINGUA SUSPENSA que está colocada na Hotte, as radiografias com crochet, IDENTIDADES RADIOGRÁFICAS, a peça RX DO AMOR, em película de TAC, colocadas sobre os vidros das janelas. Assim como a peça CABINET DE CURIOSIDENTES, fazem parte de um segundo tempo da exposição e são de 2022. “Eu que venho da dor de viver. E não a quero mais. Quero a vibração do alegre. Quero a isenção de Mozart. Mas quero também a inconsequência. Liberdade? é o meu último refúgio, forcei-me à liberdade e aguento-a não como um dom, mas com heroísmo: sou heroicamente livre.”3
Sofia Marçal
1 - Marguerite Yourcenar, in: Como a água que corre, p.9.
2 - Ob. cit. p.53.
3 - Clarice Lispector, In: Água viva, p.9.
Curadora: Sofia Marçal
Inauguração: 15 fevereiro, 18h00 às 20h00