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Pegadas de dinossáurios do Cabo Mondego, Buarcos, Figueira da Foz

Jacinto Pedro Gomes, naturalista da Secção Mineralógica e Geológica do Museu Nacional de Lisboa (antiga designação do Museu Nacional de História Natural) no ano de 1884, descreve, num manuscrito editado postumamente, a descoberta daquilo que chamou “Rastos de Saurios gigantescos no Jurássico do Cabo Mondego”.

O objetivo da deslocação do naturalista àquela localidade era, inicialmente, elaborar um relatório sobre a lavra da Mina de Carvão do Cabo Mondego. Entretanto, no local foi informado que, na praia, havia “sobre uma lapa uns grandes fósseis muito curiosos”.

Descreveu assim o que encontrou: “no sítio indicado, onde as vagas do oceano por vezes atingiam, viam-se sobre o plano mural da estratificação de uma camada de calcário marno-carbonoso, pertencendo à assentada do tecto do carvão, uns 15 moldes em relevo, todos muito semelhantes nos seus contornos gerais, comquanto alguns estivessem muito danificados. A forma de cada um parecia a de um contra-molde tirado numa impressão produzida por pé tridigitrigado como o das aves, de dimensões extraordinariamente grandes, mas aos 3 dedos seguia-se uma planta carnosa e um grande grosso esporão….. A camada contígua que, como se observa na parte ainda não abatida e que também é de calcáreo marno-carbonoso, recebeu, quando ainda no estado de lôdo semiseco, as impressões de pesados animais que viviam nas margens de lagunas cobertas de vegetação (como a substância carbonosa e fósseis vegetais indicam). Sobreveio uma inundação que encheu as cavidades de areia quartzosa, mas que não abundou para a formação de um estrato; em seguida continuou a sedimentação calcário-argilosa. Esta camada destruída pelo oceano deixou a descoberto a camada superior com o enchimento das pégadas. É esta, quanto a mim, a mais plausível explicação destes vestígios em relevo”.

A empresa do Cabo Mondego ofereceu estes vestígios à secção mineralógica deste Museu.

Em 1885, Jacinto Pedro Gomes viajou, pela Europa Central, ao serviço do Museu e teve, assim, a oportunidade de mostrar a reputados paleontólogos de alguns Museus de renome, o desenho das pegadas. Embora esse desenho não coincidisse com a forma das extremidades de répteis fósseis que existiam nas respetivas coleções, acabaram por concluir que deviam ter pertencido a um Dinossáurio.

No início do século XX, Nopsca (1923) considerou que estas pegadas tinham sido produzidas por um Terópode (dinossáurio carnívoro) de grande dimensão e atribuiu-lhe a designação de Eutynichnium lusitanicum. Esta designação continua hoje válida por se distinguir de outras icnoespécies* atribuídas a Terópodes.

Atualmente o Museu Nacional de História Natural e da Ciência preserva este conjunto de pegadas recolhidas no Jurássico Superior, incluindo o holótipo, ou seja, a pegada que serviu de base para a descrição da icnoespécie Eutynichnium lusitanicum. Esta é uma coleção de referência para o estudo das faunas de dinossáurios terópodes que viveram na Península Ibérica no início do Jurássico Superior, há cerca de 159 milhões de anos.

 

* espécie definida a partir do registo de uma pegada

Fig 1. Reprodução da gravura de Jacinto Pedro Gomes publicada postumamente por Paul Choffat nas comunicações do Serviço Geológico de Portugal, Tomo XI (1915-16) (modificada por Callapez et al.  2015).

Fig 2. Reprodução da gravura com desenhos de algumas pegadas elaborados por Jacinto Pedro Gomes que se podem encontrar na publicação póstuma por P Choffat  nas comunicações do Serviço Geológico de Portugal, Tomo XI (1915-16)

 

Dinosaur footprints from Cabo Mondego, Buarcos, Figueira da Foz

In 1884, Jacinto Pedro Gomes, a naturalist from the Secção Mineralógica e Geológica do Museu Nacional de Lisboa (formerly the Museu Nacional de História Natural), described in a manuscript posthumously published the discovery of what he called “Giant Saurian tracks in the Jurassic of Cape Mondego”.

Firstly, the purpose of the naturalist's trip there was to draw up a report on the mining of the Cabo Mondego Coal Mine. In the meantime, he was informed that on the beach there were “some very curious large fossils”.

He described what he found as follows: “In the place indicated, where the ocean swells sometimes reached, we could see on the mural plane of the stratification of a layer of marly-carbonaceous limestone, belonging to the settlement of the coal ceiling, about 15 molds in relief, all very similar in their general outlines, although some were very damaged. The shape of each one resembled that of a countermold taken from an impression produced by a three-toed foot like that of birds, of extraordinarily large dimensions, but the three toes were followed by a fleshy plant and a large thick spur.....The adjoining layer, which, as can be seen in the part that hasn't yet been cut down and which is also made up of marly carbonaceous limestone, received the impressions of heavy animals that lived on the shores of lagoons covered by vegetation (as the carbonaceous substance and plant fossils indicate) when it was still in a semi-dry mud state. There was a flood that filled the cavities with quartz sand, but there wasn't enough of it to form a stratum; limestone-clay sedimentation then continued. This layer was destroyed by the ocean, leaving the upper layer uncovered with the filling of the footprints. This, in my opinion, is the most plausible explanation for these traces in relief.”

The Cabo Mondego company offered these traces to the mineralogical section of this museum.

In 1885, Jacinto Pedro Gomes traveled through Central Europe in the service of the Museum and thus had the opportunity to show the drawing of the footprints to notorious paleontologists from some renowned museums. Although the drawing didn't match the shape of the hindlimb of reptile fossils in their collections, they concluded that the footprints from Cabo Mondego should have belonged to a Dinosaur.

At the beginning of the 20th century, Nopsca (1923) considered that these footprints had been produced by a large theropod (carnivorous dinosaur) and gave it the name Eutynichnium lusitanicum. This name is still valid today because it distinguishes it from other ichnospecies* attributed to theropods.

The Museu Nacional de História Natural e da Ciência currently preserves this set of footprints collected in the Upper Jurassic, including the holotype, that is the footprint based on which it was described the ichnospecies Eutynichnium lusitanicum. This is a reference collection for the study of the fauna of theropod dinosaurs that lived on the Iberian Peninsula at the beginning of the Upper Jurassic, around 159 million years ago.

 

* species defined based on a footprint

 

Fig 1 - Reproduction of the engraving by Jacinto Pedro Gomes (Scale 1: 20) published posthumously by Paul Choffat in the Communications of the Geological Service Volume XI (1915-16) (modified from Callapez et al. 2015).

Fig 2 - Reproduction of the engraving with drawings of some footprints made by Jacinto Pedro Gomes that can be found in the posthumous publication by P Choffat in the Communications of the Geological Service of Portugal, Volume XI (1915-16).
 

Texto de I Text by: Liliana Póvoas | Curadora convidada Coleções Geológicas MUHNAC; Elisabete Malafaia | Investigadora, Instituto Dom Luiz, Universidade de Lisboa
Fotografia de I Photo by: Afonso Ferreira 

 

PROGRAMA ALARGADO

18 dezembro

O que nos ensinam as pegadas de dinossáurio.
Mais informações brevemente disponíveis. 
 

Preço: bilhete de acesso ao jardim

Inscrições: 
geral@museus.ulisboa.pt | 213 921 808