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Exposição de Arte e Ciência

Data

15 Abril - 1 Outubro 2023

Local

Exposição "Minerais: Identificar, classificar" | Museu Nacional de História Natural e da Ciência

Exposição da artista plástica Carla Cabanas

 

Fotografias de memórias expandidas

A artista plástica Carla Cabanas apresenta duas exposições no museu; a exposição A Bao A Qu que se realiza no Laboratório de Química Analítica e na sala dos minerais a exposição Álbum de Família1.

Na escultura Álbum de família, constituída por um painel em resina, podemos ver encapsulados pequenos pedaços de imagens raspadas de fotografias de um álbum de família completo, comprado num mercado de rua. Carla Cabanas cria uma espécie de fóssil transparente que “em vez de ser composto por vestígios de seres vivos, tem pedaços de memórias de alguém, rastos de vivências cristalizadas no seu interior, talvez solidificando o processo de decomposição das experiências desta família.”(citando a artista).

Tal como o efémero perdura através do fóssil, também aqui a fragilidade da fotografia fica capturada num material duradouro, a resina, e assim, os laços familiares perduram unidos para sempre. Recordando Susan Sontag: “Esses vestígios espectrais, as fotos, equivalem à presença simbólica dos pais que debandaram. Um álbum de fotos de família é, em geral, um álbum sobre a família ampliada e, muitas vezes, tudo o que dela resta.”2

Em Álbum de família gera-se um padrão de narrativa estético que nos leva para o universo das estrelas, para o cosmos. Segundo Carla Cabanas, “a resina transparente parece fazer os fragmentos flutuar, dando tridimensionalidade a representações que nós julgávamos planas no seu material primeiro”. Surge aqui na sala dos minerais, um interessante diálogo, se por um lado temos minérios que se podem estudar para conhecer entre outras coisas o sistema solar, nesta peça alude-se ao cosmos para pensar a história de uma família. Se por um lado temos uma visão dos minérios concretos Álbum de família faz-nos ver para além da matéria.

Carla Cabanas vê a fotografia como uma recordação da transitoriedade das coisas, da falibilidade da memória. “É preciso começar a perder a memória, ainda que se trate de fragmentos desta, para perceber que é esta memória que faz toda a nossa vida. Uma vida sem memória não seria vida, assim como uma inteligência sem possibilidade de expressão não seria inteligência. A nossa memória é a nossa coerência, a nossa razão, a nossa ação, o nosso sentimento. Sem ela, não somos nada.”3 , diz-nos Luis Buñuel. Assim, Álbum de família pretende também pensar a nossa breve existência neste universo.

As duas exposições de Carla Cabanas agora apresentadas no museu, contrastam entre si, a peça Álbum de Família está inserida num contexto museológico e museográfico, convivendo com os minerais, numa sala escura.  A peça A Bao A Qu instalada no Laboratório de Química Analítica, peça única, numa sala branca e asséptica sem coleções naturalistas envolvidas. 

 

Curadoria: Sofia Marçal

1 - Todas as fotografias de um álbum de família raspadas com um bisturi, Epoxy Resin sobre Alucobond, 150 x 268 x 5,5 cm, 2022. Esta peça foi apresentada em 2022 na Appleton, em Lisboa.
2 - Susan Sotang, in: Sobre fotografia, p.19.
3 - Luis Buñuel, in: Meu último suspiro, p.7.

 

Com o apoio técnico de João Rapaz (OldSkull Fx).

ÁLBUM DE FAMÍLIA tem o apoio do Programa Garantir Cultura da República Portuguesa e Santos & Elvas, Lda.


FINANCIAMENTO

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