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Exposição da artista plástica Paula Prates
Na continuação da pesquisa da artista sobre as formações rochosas e os minerais, as suas linhas, os seus planos, superfícies, volumes e contrastes, de como se formam e se amontoam, este projeto surge como um trabalho site-specific, pensado para o espaço do laboratório.
Nestes desenhos, trabalho a repetição das linhas de uma forma quase obsessiva e que por justaposição, e em vários planos e direções, se projetam no sentido de uma tridimensionalidade imaginária, própria dos efeitos ilusórios da representação, resultando em composições quase abstratas. «Proximidade entre a pedra e o papel. Ambos são fortes e frágeis ao mesmo tempo e vivem numa linha de tempo muito maior do que os nossos corpos humanos podem e conseguem experienciar.»
(António Galopim de Carvalho)
Curadoria: Sofia Marçal
Inauguração: 17 março, das 18h00 às 20h00
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O tempo fixado no espaço
A exposição Linha de Tempo1, da artista plástica Paula Prates é composta por 7 desenhos suspensos no centro da sala do Laboratório de Química Analítica. Trabalhos a caneta branca sobre papel de alcatrão. A artista experiencia a nível pictórico, ideias como as de acumulação, sucessão de linhas, de rastros, para criar as suas narrativas lineares. Citando Paula Prates, “a linha de tempo tem a ver com os registos que ficam nos minerais, nas rochas, das arribas assim como nas árvores, com a passagem do tempo. Neste caso particular, e com os minerais as rochas, como se pode observar nos minerais existentes no museu.” A ideia da passagem do tempo, da memória, do vestígio, da ligação de linhas no espaço, num tempo, são elementos evocados nestes trabalhos artísticos.
A ideia do fragmento sempre presente nestes trabalhos evoca-nos também para uma memória coletiva de construção de fragmentos. “A memória é sempre ativa, viva, encarnada no social – ou seja, nos indivíduos, nas famílias, nos grupos, nações e regiões. Estas são as memórias necessárias para construir diferentes futuros locais num mundo global.”2 A exposição problematiza as possibilidades de uma inscrição linear e cronológica de existências imaginárias ou não, onde se explora uma tridimensionalidade utópica de uma memória vivencial.
Os desenhos têm atitudes diferentes, nuns as linhas cruzam-se, noutros não se encontram, tal como os caminhos que percorremos na nossa vida. “Como esclarecer a si própria, por exemplo, que linhas agudas e compridas tinham claramente a marca? Eram finas e magras. Em dado momento paravam tão linhas, tão no mesmo estado como no começo. Interrompidas, sempre interrompidas não porque terminassem, mas porque ninguém podia levá-las a um fim.”3 A repetição do gesto da artista cria desenhos que se projetam em vários planos e direções, idealizando uma ou várias narrativas conforme o olhar do observador.
No último desenho realizado pela Paula Prates, instalado no centro dos outros desenhos, pode-se encontrar a interrupção, o partir, o vazio como na cultura oriental. A sua intenção é atingir a ideia do vazio como um elemento preponderante na composição, tão importante como os elementos percetíveis. Para que exista movimento é preciso que exista o vazio, a criação artística é feita de mutações e de impermanência. Não são interrupções definitivas, a artista retoma sempre a linha e vai desenhado, realçando a importância do que é incorporado como o que é ocultado na construção do seu discurso plástico.
Os desenhos suspensos, movimentam-se lentamente com a circulação do ar, as linhas desenhadas movem-se. Pode-se passear entre eles, caminhar, como uma linha de tempo, passada e futura, com representações de registos de fósseis, “não se podem reviver as durações abolidas. Só se pode pensá-las na linha de um tempo abstrato privado de toda densidade. É pelo espaço, é no espaço que encontramos os belos fósseis de uma duração concretizados em longos estágios. O inconsciente estagia.”4 Os desenhos combinam-se entre si criando uma instalação onde o tempo foi preso no espaço.
Sofia Marçal
1 - Paula Prates inspirou-se na frase do Professor António Galopim de Carvalho para o título da exposição. “Proximidade entre a pedra e o papel. Ambos são fortes e frágeis ao mesmo tempo e vivem numa linha de tempo muito maior do que os nossos corpos humanos podem e conseguem experienciar.”
2 - Andreas Huyssen, in: Políticas da memória no nosso tempo, p.26.
3 - Clarice Lispector, in: Perto do Coração Selvagem, p.24.
4 - Gaston Bachelard in: A Poética do Espaço, p. 203.