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Projeto da artista Salomé Nascimento
O trabalho da artista Salomé Nascimento é o ponto de partida da exposição, apresentando obras que exploram elementos naturais em fusão com materiais industriais, nomeadamente plásticos reutilizados, integrados na unidade museológica. Em diálogo com suas intervenções no espaço, a exposição engloba obras selecionadas de três artistas convidados, provenientes de diferentes contextos: João Bugalho (Portugal, 1942), Paulina Dornfeldt (Alemanha, 1994) e Silvia Pallini (Italia, 1973).
No dia da inauguração a artista vai contemplar o público com um momento performativo, acompanhada pelo percussionista Iúri Oliveira, ampliando assim, os caminhos de leitura do projeto.
ORDEM das COISAS Investiga as temática de Homeostase e Ecologia Profunda. O título é uma referência direta à obra de António Damásio - A ESTRANHA ORDEM DA COISAS - dedicada ao conceito de Homeostase. Princípio comum regulador da manutenção da vida, desenvolvimento e florescimento da totalidade dos organismos vivos, assim como, segundo o autor, a base das respostas sociais e culturais complexas que nesta ‘estranha ordem’ têm a sua origem nas formas mais simples.
A Ecologia profunda, termo introduzido pelo filósofo Norueguês Arne Næss nos anos 70, é outra referência importante para este projeto e complementa essa reflexão, propondo uma visão sistémica da existência e do ser humano como parte da natureza, em vez de separado dela.
Além da exposição, é oferecido um vasto programa de atividades paralelas/educativas, como visitas guiadas, workshops e uma conferência, que visa promover o cruzamento entre pontos de vista da arte e da ciência, contará no painel com a equipa artística (artistas e curadoras) com convidados da área científica - Roberto Keller, curador da Coleção de Insetos do MUHNAC, Nuno Pimentel (Fundação Champalimaud) e Sandra Teles Nascimento (Hospital Júlio de Matos). O objetivo é promover um debate aprofundado sobre as temáticas abordadas e estimular a reflexão sobre o nosso papel no mundo.
Curadoria: Sofia Marçal / Katherine Sirois
Inauguração - 7 novembro, 18h00 às 20h00
+ info sobre a exposição e programação paralela aqui.
PROGRAMA PARALELO
CONVERSAS ENTORNO À ORDEM DAS COISAS
14 novembro
18h00 - CONVERSA COM ARTISTAS E CURADORAS
Salomé Nascimento, João Bugalho, Paulina Dornfeldt e Silvia Pallini com Sofia Marçal e Katherine Sirois
Entrada livre.
Local: Sala da exposição
21 novembro
18h00 - CONVERSA ENTRE ARTE E CIÊNCIA
Convite para pensar a cultura como fenómeno biológico; as perspectivas dos artistas referindo os conceitos base do projeto; a prática artística focada na sustentabilidade dos meios utilizados. Os processos criativos como lugar de existência, retiro, relação com a natureza, e comunhão com o todo. Olhar crítico sobre a relação humano/natureza, no sentido da sua equidade.
Participantes convidados:
Nuno Pimentel - oncologista, Fundação Champalimaud
Roberto A. Keller - biólogo, MUHNAC e Centre for Ecology
Sandra Nascimento - psiquiatra e sexóloga, Hospital Júlio de Matos
com Intervenção dos artistas, curadoras e debate aberto ao público
Entrada livre.
Local: Auditório Manuel Valadares
CICLO DE WORKSHOPS > NATURA / HUMANA
Ciclo de workshops (2 sessões de cerca de 2h) direcionados ao público geral que propõe uma tomada de consciência da nossa ligação à natureza e a necessidade da sua proteção, explorando diversas técnicas de criação artística, como o desenho, respiração, movimento, observação ao microscópio e pintura com elementos naturais.
17 novembro
11h00 - 1_ SENTIR, ser forma _ Palavras-chave: respiração, movimento e desenho ‘cego’
Esta é uma atividade contemplativa de ligação à natureza, desenvolvimento de foco e atenção plena. Através do desenho ‘cego’ (sem olhar para o papel) e exercícios de respiração, vamos observar as formas naturais do jardim botânico.
De seguida, através da exploração do movimento orgânico, faz-se um convite ao participante para sentir-se parte integrante da natureza através do corpo, das suas ações básicas e do fluxo natural do organismo, entenda-se o movimento criativo como veículo de ligação ao corpo e à natureza.
24 novembro
11h00 - 2_ENTRAR, ir além _ Palavras-chave: observação ao microscópio, experimentação pictórica com elementos naturais.
Vamos observar ao microscópio elementos recolhidos no jardim Botânico e a partir dessa observação, vamos intervir sobre o material criado no workshops 1 com diferentes técnicas e materiais: collage, pigmentação com elementos naturais, terras e outros elementos.
Lotação máxima: 15 participantes
Local: Centro de Recursos Educativos, Jardim Botânico de Lisboa
Workshops gratuitos, com inscrição prévia obrigatória
geral@museus.ulisboa.pt | 213 921 808
VISITAS ORIENTADAS
Visitas para escolas e público em geral - por marcação entre 8 e 30 novembro
geral@museus.ulisboa.pt | 213 921 808
Sinopse: Conheces o conceito de homeostase? E ecologia profunda diz-te alguma coisa? Anda descobrir mais sobre estes dois conceitos que serviram de inspiração para esta exposição. Aceita o desafio da Salomé Nascimento para refletir sobre sobre a questão do filósofo Arne Naess: como podemos viver de uma forma que seja boa para mim, para os outros e sustentável para o planeta? O que posso mudar na minha forma de estar?
Concepção: Lugar Específico
Orientação: Lugar Específico e Serviço Educativo do MUHNAC
Público: adaptável a todas as faixas etárias/todos os públicos
INTEGRAR - Laboratório com alunos das Fac. Belas Artes de Lisboa
Entre 8 e 30 novembro
Integrar é um Laboratório de criação artística, dedicado a um grupo de alunos da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, com o objetivo de desenvolver um corpo de trabalho a partir da exposição Ordem das Coisas, patente no MUHNAC entre 7 e 12 janeiro. Este laboratório inclui um ciclo de 3 workshops (3 sessões de cerca de 2h), dinamizados pela artista Salomé Nascimento, que propõe uma tomada de consciência da nossa ligação à natureza e a necessidade da sua proteção, explorando diversas técnicas de criação artística, como o desenho, respiração, movimento, observação ao microscópio e pintura com elementos naturais. Propõe-se ainda que partir da exposição e do trabalho realizado nos workshops, se crie um diálogo com as aulas do curso de escultura, para a concretização de objetos/registos artísticos que serão apresentados na finissage a 12 janeiro, em conjunto com um momento de conversa aberta ao público com a artista, as professoras Marta Castelo e Helena Elias e os alunos envolvidos.
Criação de registo da experiência com apresentação e conversa aberta ao público na finissage a 12 janeiro.
(enquadrado no programa Aula aberta _ sessões vão acontecer na sala da mina)
FINISSAGE
12 janeiro
19h00 - Apresentação do laboratório INTEGRAR alunos da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa
Entrada livre.
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A Cavalgada das Valquírias[1]
A artista visual Salomé Nascimento convidou os artistas, Silvia Pallini, Paulina Dornfeldt e João Bugalho para integrarem conjuntamente com ela a exposição, A Ordem das coisas com a intenção de se criar um diálogo mais abrangente, evidenciando assim, a sensibilidade, a visão e a técnica de cada um. Os trabalhos apresentam-se como uma lógica representativa simbólica mais ou menos metafórica. Posicionando-se entre a indignação, o desalento e a estética o que nos leva para um pensamento da representação pictórica enquanto linguagem despojada.
Segundo Salomé Nascimento, a exposição “tem como base o estudo da obra de António Damásio, A estranha ordem das coisas ao qual o título refere, dedicada ao conceito de Homeostase. Princípio comum regulador da vida, desenvolvimento e florescimento da totalidade dos organismos vivos, assim como a base das respostas sociais e culturais complexas que nesta ‘estranha ordem’ têm a sua origem nas formas mais simples.”
Instalada na hotte, no armário, nas bancadas, os trabalhos de Salomé realizados a partir de residios orgânicos e inorgânicos criam um belo horrendo. “Podemos ver luta nisto: é a fuga ao demónio do conceito mental estereotipado, a consciência mental a abarrotar de lugares-comuns que intervêm como um biombo totalmente interposto entre nós e a vida.”[2] É a expressão artística da transformação, os processos naturais que criam forma e visões através de mudanças dos seus componentes.
A instalação de Paulina Dornfeldt centra-se na recreação de um laboratório, remanescência desta sala, os recipientes de química adquirem o estatuto de esculturas irónicas e altivas. “Consequentemente, dentro de qualquer uma das posições geradas por um determinado espaço lógico, vários meios diferentes de expressão poderão ser utilizados,”[3] para se criarem objetos de arte, neste caso esculturas.
As pinturas, as esculturas, os jogos de espelho, o carvão, a tinta-da-china, as pedras, a grafite de Viarco, de Silvia Pallini, colocados nas bancadas, nos armários, onde o pigmento preto contrasta com o branco assético do laboratório, remetem-nos para o fluxo da natureza, mas também para a reflexão. “Não há nada de errado em afastar-se e refletir.”[4]
João Bugalho com as suas pinturas bucólicas que se projetam no Laboratório de Química Analítica, onde o espaço se dilata e encontra o tempo. “Através do belo, o homem é como que recriado em todas as suas potencialidades e recupera sua liberdade.”[5] A simplicidade, a beleza destas paisagens leva-nos a contemplar a harmonia e o equilíbrio da paisagem natural, onde esta liberdade nos leva à sua preservação.
A Cavalgada das Valquírias como alegoria à exposição, “as valquírias escolhiam quem vivia e quem morria em batalha e levavam os defuntos para o ‘salão dos mortos’, Valhala.”[6]Na exposição os trabalhos são a escolha dos artistas para nos fazerem refletir sobre a estranha ordem das coisas.
Sofia Marçal
[1] Início do III ato da ópera A Valquíria do compositor alemão Richard Wagner, 1851.
[2] D. H. Lawrence, in: A maçã de Cézanne… e eu, p.76.
[3] Rosalind Krauss, in: A Escultura no campo expandido, p.137.
[4] Susan Sontag, in: perante a dor dos outros, p.102.
[5]Schiller, in: A educação estética do homem, p.14.
[6] Ana Teresa Santos, in: René Lalique e ‘A Cavalgada das Valquírias’. MCG, 17 de julho de 2020.