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Exposição da artista plástica Bettina Vaz Guimarães
A instalação site-specific consiste em um grande mobile composto por paralelepípedos de madeira de diversas dimensões e cores, interconectadas por fios que permitem movimento constante. Cada paralelepípedo está pintado com cores que representam a cor espectral de elementos químicos. À medida que os paralelepípedos giram em torno do seu próprio eixo, interagem uns com os outros a formar representações artísticas de moléculas e compostos químicos.
Curadoria: Sofia Marçal
Inauguração: 4 de julho, 18h00 às 20h00
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Os elementos químicos como abrigo das cores
A Exposição Tabela Periódica da artista visual Bettina Vaz Guimarães, realizada no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, no Laboratório de Química Analítica, pensa a química sob uma perspetiva artística, onde o trabalho pretende estabelecer um contacto com a ciência, na criação de uma outra Tabela Periódica.[1] A artista propõe um laboratório de Arte, onde os elementos químicos dançam com as cores e fazem-nos entrar na Tabela Periódica, que nos acolhe como se fosse um abrigo. “Os valores de abrigo são tão simples, tão profundamente enraizados no inconsciente, que os encontramos mais facilmente por uma simples evocação do que por uma descrição minuciosa. Nesse caso o matiz exprime a cor.”[2]
Bettina Vaz Guimarães recuou até à sua adolescência para procurar a razão do seu gosto pela química, fascinava-se com as cores da Tabela Periódica assim como a disposição dos símbolos químicos. Citando a artista,“observei que as cores na Tabela podem mudar, se procurarmos tabelas na internet poderemos ver que as cores são uma maneira de desenhar, que não são fixas e mostram os comportamentos similares dos elementos químicos.” A artista transpôs para os desenhos esse seu deslumbre pela cor, repetindo incessantemente o momento em que o visível se tornou iluminado, esse instante em que a cor ganha forma.
Partindo de uma apropriação consciente, a peça tabela periódica instalada na parede, dá o mote à exposição. É construída por pequenos desenhos pintados a tinta acrílica sobre mdf. Cada um desses desenhos representa um elemento químico, aqui a artista manteve a forma da Tabela Periódica alterando somente as cores e assim a artista estabilizou a tabela periódica com as suas cores. A química é a ciência de elementos e transmutações materiais e a arte também, deste modo as analogias construídas contaminam-se, misturam-se e criam estes desenhos simbolizando elementos químicos.
Os desenhos suspensos do teto no centro da sala representam os elementos da tabela periódica, alguns parecem plantas de casas e como nos diz a artista, “foram feitos em Portugal pensando na planta da casa, da sua reforma e por essa razão influenciaram-me, utilizei as fitas que isolaram as minhas pinturas na sua construção.” A exposição vai para além da metamorfose dos elementos químicos, é uma exposição de afetos, de aconchego, de refúgio. “Com os olhos fechados, sem atenção para as formas e as cores, o sonhador é tomado pelas convicções do refúgio. Nesse refúgio, a vida concentra-se, prepara-se, transforma-se.”[3]
Colocado na hotte está um desenho escultórico e outro de menores dimensões no armário ao lado, em cinco gavetas encontram-se também desenhos, com estes trabalhos resguardados Bettina Vaz Guimarães reforça a ideia de abrigo. “Não, não eram as suas cores — era o equilíbrio e a densidade do período em si. Seria, pois, que ele amava apenas o erguer e o tombar rítmico das palavras mais do que a associação delas em legendas e em cores?”[4] A cor torna-se elemento construtivo da forma, numa alegoria, à química, à casa, com a interminável repetição do gesto, a artista desenha, pinta, recorta, cola…
Ao pensarmos num laboratório de química associamo-lo à imagem de um laboratório de Ciência, agora neste laboratório já não se realizam experiências químicas, explosões, mas os vestígios desse tempo permanecem e fazem parte da magia deste espaço. “Em todas as formas de evolução, na dignidade como no divertimento, na persuasão como no exagero, no inteligível como no absurdo, na fantasia como na realidade, a arte tem sempre um pouco a ver com a magia.”[5] Aqui na exposição também com a ciência, neste caso com a Tabela Periódica, onde Bettina trabalha a diferença estética e a materialidade dos elementos quimicos como um desafio e entrega-os à cor das quais resultam estes desenhos que emanam uma radiante harmonia.
Sofia Marçal
[1] Dimitri Ivanovich Mendeleev (1834 -1907), químico russo, inventor da tabela periódica em 1869 enquanto escrevia um livro de química inorganica.
[2] Gaston Bachelard, in: A Poética do Espaço, p.205
[3] Gaston Bachelard, Ob. Cit., p.275.
[4] James Joyce, in: Retrato do artista quando jovem, p.118.
[5] Ernst Fischer, in: A necessidade da Arte, p.18.